terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Personalidades >>> DOMINGUINHOS, o maior sanfoneiro vivo do Brasil, festeja seus 70 anos


No último dia 12 (de fevereiro), o Brasil parou para celebrar os 70 anos de vida de José Domingos de Morais, o Dominguinhos - este que, depois do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, é talvez o garanhuense de maior projeção nacional e internacional. Com efeito, os principais meios de comunicação do país - a exemplo da influente Rede Globo, que dedicou-lhe alguns dos concorridos minutos do Jornal Nacional - pararam para prestar poéticas homenagens ao mestre da sanfona.

A boa notícia da longevidade de Dominguinhos, porém, veio a substituir uma outra não tão feliz. É que, poucas semanas antes, o prestigiado músico havia sofrido um princípio de enfarte e, apesar de se recuperar bem, não foram divulgados maiores detalhes sobre seu real estado de saúde. Não há como saber foi por essa a triste razão - a saber, a iminência de perdê-lo - que, repentinamente, o simpático instrumentista voltou ao centro das atenções nacionais, mas o fato é que pouco importam os motivos: tal honraria era-lhe mais do que devida.

Dominguinhos é uma verdadeira lenda viva da música nordestina, sendo considerado atualmente o maior sanfoneiro em atividade do Brasil. Sua fama o acompanha desde pequeno, quando ele, então conhecido por "Neném", ainda integrava - com os também muito jovens Moraes (sanfona) e Valdomiro (malê) - o grupo "Os Três Pinguins", tocando pandeiro na feira e para os turistas do Hotel Tavares Correia.

Mas Neném também se arriscava no acordeon, e, com o dom que recebera, mandava muito bem, impressionando a todos. Foi assim que um dia, de passagem por Garanhuns, Luiz Gonzaga ouviu falar que havia um pequeno que tocava aquele instrumento tão bem quanto ele. Gonzagão interessou-se em conhecer o rapaz e, surpreendido com o que vira e ouvira, elogiou-o, deu-lhe um maço de notas como cachê e disse-lhe que, se um dia fosse ao Rio de Janeiro, procurasse-o. Foi o que aconteceu.

Em 1954, então contando 13 anos, Dominguinhos emigrou com o pai e o irmão para a então Capital Federal, e lá procurou o Rei do Baião. Foi recebido como um filho e logo se viu convertido na menina dos olhos do genial mentor. De fato, Gonzaga não tardou em anunciá-lo - o que fez oficialmente, quando das comemorações de um de seus aniversários - como seu herdeiro artístico, e a partir de então a fama do instrumentista - na mesma proporção de seu talento - só ascendeu.

Ao longo da carreira, Dominguinhos estabeleceu importantes parcerias, muitas das quais com outras sumidades - quais Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Nando Cordel -, bem como com o compositor Fausto Nilo. Dessas associações - nas quais ele normalmente entrava com a melodia e os colegas com a letra -, despontariam clássicos como , "Além da última estrela", "De volta pro meu aconchego", "Eu só quero um xodó", "Isso aqui tá bom demais", "Lamento sertanejo", "Pedras que cantam" e "Quem me levará sou eu".

Ao todo, foram mais de 2 mil participações em gravações de seus parceiros, e mais de 500 músicas lançadas em uns 40 e poucos álbuns - alguns dos quais, inclusive, render-lhe-iam premiações importantes, como o Grammy Latino de 2002 e os Prêmios TIM e Shell de Música de 2007 e 2010, respectivamente.

Curiosamente, as histórias de Dominguinhos e Lula são bastante parecidas, vez que ambos saíram da zona rural nordestina como retirantes e lograram, cada um com o seu talento, chegar ao ápice em seus âmbitos de atuação, obtendo o devido reconhecimento da opinão pública. Os dois ilustres garanhuenses, todavia, recentemente andaram se estranhando, especialmente porque o sanfoneiro resolveu servir de cabo eleitoral do tucano José Serra nas últimas eleições presidenciais.

Destarte, quando da última visita do então Presidente Lula ao seu Estado de origem, Dominguinhos, que com muita justiça havia sido escalado para comandar a festa - é que o Presidente veio anunciar a criação do Cais Luiz Gonzaga no Porto do Recife -, acabou vendo-se dela excluído em cima da hora; um desentendimento lamentável, que muito entristece os fãs do burgo serrano que os viu nascer.

Mas Garanhuns, por outro lado, não tem muito do que reclamar em relação a Dominguinhos, porque, na verdade, é o município que jaz em débito com aquele. Veja-se, por exemplo, que apesar de toda a movimentação nacional em torno do músico - uma enorme festa foi organizada em São Paulo -, em seu torrão-natal a data passou quase que despercebida. O Memorial Dominguinhos, reiteradamente anunciado quando dos Festivais de Inverno, nunca veio a se concretizar, e até a estátua em argila que dele existia no errante Museu de Arte Latino-Americana deixou de ser exibida, assim como todo o acervo da instituição, que jamais encontrou o devido apoio governamental para permanecer funcionando.

É hora de reverter esse quadro, Garanhuns, e de prestigiar esse grande talento que emergiu desta terra de Simoa!

A Dominguinhos, nossos mais sinceros votos de Feliz Aniversário!